Artigos de especialistas em saúde e comportamento de cães e gatos
CASTRAR SIM... E QUANTO ANTES MELHOR!
Dra. Silvia Crusco e Claudia Pizzolatto*
Quem convive com cães sabe. De repente, lá pelos 8 meses de idade, o filhotinho brincalhão começa a ficar adulto. Ou seja, a ter atitudes como: ser possessivo, brigar com outros animais, marcar território com urina, montar em cães, pessoas da casa ou visitas sem a menor cerimônia, entre outras artes. Na fêmea, de repente, aparece o sangramento do cio e suas consequências, como sangue no tapete e a presença dos cães da vizinhança na porta de casa.
O início da puberdade – que nada mais é do que o começo da produção dos hormônios sexuais – significa mudanças para sempre no organismo e no comportamento do cão, que podem ser o ponto de partida para problemas de relacionamento com o dono e o desenvolvimento de maus hábitos.
Por esse motivo, cada vez mais os comportamentalistas estão optando por recomendar a castração ... de preferência antes dos 8 meses de idade.
A ação dos hormônios sexuais dá início a comportamentos que podem continuar mesmo depois da castração, devido ao cão se acostumar a eles.
Do ponto de vista veterinário, a castração é o único meio de evitar a reprodução que previne, ao mesmo tempo, tumores no aparelho reprodutivo, muito comuns nos cães com idade madura e mais avançada. O problema resulta de um processo de multiplicação exagerada de células em órgãos do aparelho reprodutor, estimulado pelos hormônios sexuais.
Castrar a fêmea antes dos 6 meses também é recomendado. Nas cadelas que fazem a cirurgia depois entrar na puberdade, os casos de tumores na mama diminuem, mas não se tornam quase nulos, como acontece quando a castração é precoce.
No Brasil, há veterinários castrando a partir dos 2 meses de idade, costume mais generalizado nos Estados Unidos. As técnicas cirúrgica e anestésica usadas em nosso país permitem realizar a castração precoce com grande segurança. É o caso da anestesia inalatória: o cão dorme sedado, inalando um gás anestésico por um tubo ou máscara. A cirurgia é feita rapidamente, com pequenas incisões - nos machos a operação dura apenas 20 minutos e 40 nas fêmeas, sem precisar de internação.
Nos Estados Unidos, torna-se cada vez mais comum castrar filhotes com apenas 7 ou 8 semanas de vida, já que a recuperação da cirurgia é mais rápida. Elimina-se qualquer chance de gravidez precoce, e a tecnologia permite esse avanço.
Perde adeptos a opção pela castração com cerca de 1 ano de idade, para dar tempo de os hormônios sexuais agirem.
Não foram jamais provadas as teorias pelas quais essa estratégia estimularia a hipófise a produzir o hormônio do crescimento, a desenvolver a ossatura e o macho a ganhar massa muscular.
Pelo contrário, não é raro ver cães castrados mais desenvolvidos que seus irmãos de ninhada não-castrados.
CORRIGINDO COMPORTAMENTOS
A castração ajuda a corrigir comportamentos indesejados, é o que garante um estudo feito em cães machos pelo Veterinary Medical Teachiong Hospital, da Universidade da Califórnia em conjunto com o Small Animal Clinic, da Universidade de Michigan.
Bastou a cirurgia ser feita para, em grande parte dos casos, cessar o comportamento indesejado.
- Fugir – 94% dos casos foram resolvidos, 47% deles rapidamente.
- Montar – 67% dos casos foram resolvidos, 50% deles rapidamente.
- Demarcar território – 50% dos casos foram resolvidos, 20% deles rapidamente.
- Agredir outros machos – 63% dos casos foram resolvidos, 60% deles, rapidamente.
• Nos cães castrados, a agressividade por defesa territorial ou por medo não foram alteradas.
• Alguns cães ficaram mais calmos e mais carinhosos, mantendo maior proximidade física com os donos, e deixando de encarar qualquer movimento como provocação.
CASTRAÇÃO PRECOCE
COMPORTAMENTO E SAÚDE -- APÓS 6 meses - ANTES de 6 meses
Estabilidade de comportamento -- Maior - Muito maior
Agressividade por disputa sexual -- Menor - Muito menor
Brigas com outros cães -- Menos - Muito menos
Montar em outros cães ou pessoas -- Menos - Quase nulo
Demarcação de território com urina - Menos - Quase nulo
Possessividade exagerada -- Menor - Muito menor
Tendência a engordar -- Alta - Mínima
Probabilidade de Tumor na Mama -- Média - Quase nula
Maturidade Emocional -- 2 anos - 2,5 anos
Fugas em busca de fêmeas -- Menos - Nulas
Instinto territorial -- Inalterado - Inalterado
Instinto de guarda -- Inalterado - Inalterado
Desenvolvimento físico -- Inalterado - Inalterado
(A comparação é feita tendo como base os cães não-castrados.)
IDÉIAS ERRADAS
“Cão castrado é mais propenso a problemas de saúde.”
FALSO: a probabilidade de pegar doenças não aumenta com a castração. Antes pelo contrário: a retirada de útero e dos ovários, ou testículos, acaba com a possibilidade de infecções e tumores nesses órgãos, e de complicações ligadas à gravidez e ao parto. Sem acasalamentos, as doenças sexualmente transmissíveis deixam de representar risco. Cai a incidência de tumores da mama.
“Acasalar deixa o macho emocionalmente mais estável.”
FALSO: dependendo das disputas, o acasalamento pode até causar instabilidade emocional.
“A fêmea precisa ter crias para manter o equilíbrio emocional.”
FALSO: não há relação entre os dois fatos. O equilíbrio emocional fica completo com a maturidade, que ocorre por volta dos 2 anos nos cães não castrados. Se uma cadela se mostrar mais calma e responsável depois da primeira ninhada, é porque amadureceu devido a ter avançado na idade e não porque se tornou mãe.
“A falta de prática sexual causa sofrimento.”
FALSO: o que leva o cão à iniciativa de acasalar e exclusivamente o instinto de procriar, e não o prazer nem a necessidade afetiva. O sofrimento pode atingir machos não castrados se vivem com fêmeas e não podem cruzar: ficam mais agitados, agressivos, não comem e perdem peso.
“Castrar reduz a agressividade do cão de guarda.”
FALSO: a agressividade necessária para a guarda é determinada pelos instintos territorial e de caça e pelo treinamento, sem ser alterada pela castração.
*Dra. Silvia Crusco, veterinária especializada em castração e Claudia Pizzolatto, treinadora especializada em comportamento canino.
Artigo publicado na Revista Cães e Cia de janeiro de 2001
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CASTRAÇÃO:
COMO ELA PODE PROPORCIONAR SAÚDE E BEM-ESTAR AOS CÃES E GATOS
Dra. Gisela Mechlin Wajsfeld, Médica Veterinária
Sem dúvida que a castração, à primeira vista, assusta todos os guardiães de cães e gatos... "Castrar o meu cachorrinho / gatinho? Tadinho dele!".
Atualmente sabe-se que ocorre o contrário.
O animal sofre menos se for castrado, principalmente se a cirurgia for precoce (antes dos 6 meses de idade).
POR QUÊ?
Há inúmeros trabalhos científicos veterinários que comprovam que machos e fêmeas, cães e gatos, castrados possuem uma maior expectativa de vida. Tal fato deve-se a vários motivos.
A fêmea castrada antes do primeiro cio tem quase nula a chance de desenvolver tumores de mama quando tiver mais idade. O tumor de mama é o câncer mais comum, principalmente em cadelas idosas.
Além disso, evita totalmente a possibilidade de tumores de ovário e útero, sem falar na piometra, infecção uterina que comumente afeta fêmeas em qualquer idade. Sabe-se que a castração realizada até o quarto cio, diminui as chances da cadela apresentar os tumores de mama ... por isso, quanto mais cedo melhor, porque o efeito da cirurgia, para este objetivo, diminui com a ação dos hormônios liberados nos cios.
Como se a prevenção de câncer não bastasse, temos também suprimidos todos aqueles sintomas de cio, como o sangramento, o inchaço da vulva, a gestação psicológica e a atração de machos pelas cachorras, além dos miados constantes, as tentativas de fuga e a inquietação típicos das gatas. É comum as quedas de gatos, machos e fêmeas, dos apartamentos serem motivadas pelo cio. Para complementar ainda, a castração de fêmeas ajuda a prevenir o diabetes e não causa obesidade, que depende unicamente da alimentação e da atividade física do animal.
A castração na fêmea (OSH - ovário-salpingo-histerectomia) constitui-se na retirada dos 2 ovários e do útero, que é composto por 2 cornos uterinos e um colo, assumindo o formato de um Y. No macho são retirados os dois testículos (orquiectomia total), permanecendo a bolsa testicular. Em ambos os sexos a cirurgia, principalmente se realizada em animais jovens, é extremamente segura e não deixa o animal traumatizado.
No macho as vantagens também são inúmeras.
A castração previne totalmente a incidência de tumores testiculares e diminui consideravelmente o câncer de próstata, as hérnias perineais e a hipertrofia prostática, comum em machos idosos e frequente causa de infecções urinárias. Além disso torna o animal mais comportado, diminuindo as fugas e brigas, levando a uma menor incidência de infecções e atropelamentos. O macho castrado não vai marcar tanto o território através da urina e não fica "montando", no caso dos cães, incessantemente na perna das pessoas e objetos da casa. O cão de guarda será ainda melhor, visto não se preocupar mais com cachorras no cio, concentrando sua atenção na casa e na família.
No caso dos gatos, em especial, o fato de diminuírem as brigas e cruzamentos, incorre na prevenção da AIDS felina - que é transmitida pelo cruzamento e por mordidas e ainda não há vacina disponível.
Observação: a AIDS felina é específica dos gatos e não é possível de ser transmitida ao homem de forma alguma, nem por mordidas, arranhões, lambidas ou contato com o sangue, urina, saliva e fezes.
Por experiência própria e relatos dos proprietários, posso afirmar que os animais só mudam seus comportamentos para melhor depois da cirurgia.
O animal castrado não perde a sua personalidade, pelo contrário, sem estar mais sujeito às ações dos hormônios sexuais, torna-se mais calmo e sociável, podendo se dedicar mais às brincadeiras com os donos e outros animais.
O animal não tem mais sua circulação restringida durante o cio, ficando assim acessível o tempo todo, mais saudável, mais feliz e mais companheiro, por muito mais tempo.
Não há comprovação científica de que o animal tenha que cruzar para ser normal, para desenvolver sua personalidade ou para prevenir doenças, que já vimos que é papel da castração. Um animal que cruza agora não ficará satisfeito até o final de sua vida, tendo sua vontade renovada no próximo cio (ou motivada pelo cio das fêmeas da espécie – e machos sentem cheiro de fêmea no cio há quilômetros de distância!).
Não há condições de cruzar a fêmea todo o cio ou o macho todo mês. Eles podem ficar mais calmos com o cruzamento, mas apenas temporariamente. Não há trabalhos comprovando que uma ou mais gestações venham a prevenir o câncer na fêmea... a castração sim. Além disso, como podemos garantir que vamos conseguir arrumar bons lares para todos os filhotes gerados? Infelizmente, muitas pessoas não têm a responsabilidade de assumir um animal até o final de sua vida... 15 e até 20 anos.
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Além de visar a saúde e o bem-estar do animal "particular", a castração é a solução para os animais "públicos", ou seja, aqueles que são abandonados pelos donos e ficam pelas ruas à mercê de suas próprias sortes... ou será "azares"?
Gatos e cães são abandonados todos os dias... porque ficaram doentes, porque estão velhos, porque o dono não sabe lidar com eles ou simplesmente não os querem mais. Correm perigos, sentem fome, frio e medo, podem causar acidentes de trânsito. Em praças e parques públicos são abandonados ninhadas de filhotes recém-nascidos indesejados por seus donos.
Os governos ainda promovem o sacrifício de cães e gatos como solução para o problema da superpopulação dessas espécies. Não promovem campanhas de castração e de educação para a guarda responsável; não fiscalizam o comércio ilegal - ações preconizadas pela OMS. Não existe habitat natural e nem lares suficientes para tantos cães e gatos.
Por todos os motivos citados e por todos os cães e gatos, com donos ou sem donos, a castração é, acima de tudo, um ato de amor!
*Dra. Gisela Mechlin Wajsfeld é Médica Veterinária - CRMV-SP 7250.
Texto adaptado de www.vira-lata.org/doc9.shtml
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